Todos os Não Cristãos São Hipócritas

Por Vincent Cheung. Extraído de The Sermon on the Mount (2012).

Luan Tavares
6 min readNov 5, 2020

Há a acusação comum de que os cristãos são hipócritas. As pessoas dizem: “A igreja está cheia de hipócritas!” ou “Os cristãos são hipócritas, e eu não quero ter nada a ver com eles!” Em geral, isso é dito não apenas como uma crítica aos cristãos individualmente, mas também à maioria ou até mesmo a todos os cristãos, e frequentemente é uma crítica ao próprio Cristianismo. O raciocínio parece ser que o Cristianismo não é digno de confiança porque os cristãos são hipócritas.

Devemos nos lembrar o que significa ser um hipócrita. O hipócrita é um ator. Ele é aquele que afirma ser alguém que não é, ou que afirma acreditar em algo em que realmente não acredita. Esta definição concorda com os dicionários ingleses e concorda com a forma como a Bíblia usa o termo.

Então, devemos também especificar o que significa ser cristão. Devemos encontrar nossa definição de cristão na Bíblia. Se “cristão” significa o que alguém quer que signifique, então ele pode chamar um budista ou até um ateu de “cristão”, mas então suas críticas contra “cristãos” não se aplicariam mais aos seguidores da religião bíblica. Elas se aplicariam apenas ao tipo de pessoa que ele estranhamente chama de cristãos, a saber, os budistas e ateus. Quando isso acontece, não haverá mais necessidade de defender os cristãos da acusação de hipocrisia, pois ele nem mesmo está falando mais sobre os cristãos, mas apenas usando a palavra para falar sobre os não cristãos.

O que é um cristão? Um cristão é aquele que foi escolhido e mudado por Deus e que exibe sua fé em Cristo tanto em credo quanto em conduta. É assim que a Bíblia define um cristão. Mesmo sem examinar o restante da Bíblia, Jesus insiste no Sermão que seus discípulos devem ter uma justiça superior à dos fariseus e escribas, no sentido de que eles devem verdadeiramente afirmar e seguir as exigências da lei.[60]

Tendo isso em mente, perguntamos: “O que torna um cristão um hipócrita?” ou “O que faz de alguém um cristão e um hipócrita?” Primeiro, ele deve realmente ser um cristão conforme definido pela Bíblia. Segundo, para que esse cristão seja um hipócrita, ele deve afirmar ser alguém que não é, ou deve alegar que acredita em algo em que realmente não acredita.

Ora, quando as pessoas fazem a acusação de que os cristãos são hipócritas, o que elas têm em mente? O que os cristãos afirmam ser o que eles não são? E o que eles afirmam acreditar que não acreditam? O que os cristãos fingem ser? E o que eles fingem acreditar?

Suponha que alguém diga a você que é cristão e que conhece e afirma as doutrinas básicas da Bíblia. Se ele pecar, você pode chamá-lo de hipócrita? Você não pode, porque alguém que realmente afirma as doutrinas básicas da Bíblia diria que ela ensina que os cristãos não são perfeitos e sem pecado e, portanto, os cristãos não afirmam ser perfeitos e sem pecado.

Portanto, quando o cristão peca, ele está fazendo exatamente o que diz a você que faria. Ele não afirma ser alguém que não é e não afirma acreditar em algo que não acredita. Ele lhe diz que foi mudado, mas que ainda luta contra o pecado à medida que amadurece em santidade. O pecado que você observa é exatamente o que ele diz para você esperar dele. Onde está a hipocrisia?

Por outro lado, se alguém afirma ser cristão, e também afirma ser perfeito e sem pecado, então ele não sustenta as doutrinas da Bíblia. Qualquer crítica dirigida a ele é irrelevante para o Cristianismo. É aplicável apenas a ele como um indivíduo, e não a todos os cristãos ou à fé cristã. A teologia cristã não afirma que os cristãos não têm pecado; portanto, alguém que afirma ser cristão não é hipócrita quando peca, a menos que também afirme que não tem pecado.

Da mesma forma, uma pessoa que afirma ser um cristão, mas que nega as doutrinas da Bíblia, como a inerrância bíblica e a expiação, não pode representar a religião cristã. Caso contrário, qualquer um poderia desacreditar o ateísmo alegando ser ateu, mesmo quando não o fosse, e então roubar um banco ou assassinar alguém. Provavelmente ninguém aceitaria isso como prova contra o ateísmo, ou como prova de que todos os ateus são ladrões e assassinos. Mas quando se trata da fé cristã, muitas pessoas consideram esse tipo de argumento legítimo e persuasivo.

O argumento da hipocrisia pode desacreditar a pessoa, mas não a cosmovisão que ela diz afirmar, a menos que haja algo inerente à cosmovisão que necessariamente produza crenças e ações contraditórias. Quando for esse o caso — se a cosmovisão for autocontraditória — então a abordagem correta é lidar com a própria cosmovisão. Portanto, o argumento da hipocrisia é frequentemente irrelevante quando o debate é sobre uma cosmovisão e não sobre uma pessoa.

Se alguém afirma ser justo, mas costuma cometer assassinato, roubo, adultério, perjúrio e outras coisas semelhantes, então ele não é cristão. A Bíblia não admitiria que ele fosse cristão e eu não admitiria que ele fosse cristão. Ele tem a capacidade de dizer que é cristão, assim como tem a capacidade de dizer que é um cachorro, uma árvore, um ateu ou rei do universo, mas a capacidade de dizer que ele é essas coisas não o torna qualquer uma dessas coisas. Ele pode alegar ser cristão, mas isso não o torna um. Um “cristão” que mata, rouba e mente, é realmente um não cristão que mata, rouba e mente.

Se digo que sou professor de matemática, mas não sei ensinar ou nem mesmo entendo matemática, a conclusão correta é que não sou realmente professor de matemática, embora eu afirme ser. Você estaria errado em dizer às pessoas que os professores de matemática são hipócritas, visto que alguém que não é professor de matemática afirma ser algo que não é.

Da mesma forma, o hipócrita religioso não é cristão, mas sim não cristão. A menos que aqueles que fazem a acusação de que os cristãos são hipócritas possam provar que são realmente cristãos em vez de impostores, esses hipócritas são não cristãos. Os não cristãos são os hipócritas. Portanto, nós respondemos:

“Não cristãos, hipócritas! Vocês não são cristãos, mas muitos de vocês se apresentam como cristãos. Então, quando vocês revelam seu verdadeiro caráter com suas más ações, vocês fazem a acusação de que os cristãos são hipócritas, quando vocês — os não cristãos — são aqueles que fingem ser algo que não são, e aqueles que praticam essas más ações.

“Não cristãos, hipócritas! Vocês reclamam que há muitos hipócritas para justificar sua incredulidade e desobediência. Mas quando vocês fazem isso, vocês também são hipócritas, e ao julgar outras pessoas por serem hipócritas, vocês também se condenam por serem hipócrita Vocês são como as pessoas que vocês julgam.

“Não cristãos, hipócritas! Quando vocês acusam alguém que afirma ser cristão, mas não acredita ou não segue as doutrinas da Bíblia, vocês na verdade acusam um não cristão que finge ser cristão. Vocês estão acusando alguém e expondo um dos seus como hipócrita. Ao acusar esses muitos “cristãos” de hipocrisia, vocês estão acusando muitos não cristãos de hipocrisia.

“Não cristãos, hipócritas! Vocês dizem coisas como: ‘A história está cheia de atrocidades cometidas por cristãos em nome de Cristo’. Mas a menos que vocês possam provar que esses eram cristãos verdadeiros de uma forma que devemos aceitar, que eles eram cristãos de acordo com a definição cristã, você está assumindo que qualquer pessoa que afirma ser um cristão é realmente um cristão. A Bíblia nega que sejam cristãos, de modo que deveríamos antes dizer: ‘A história está cheia de atrocidades cometidas por não cristãos que abusaram do nome de Cristo’.”

A acusação de hipocrisia é um dos argumentos mais comuns contra a fé cristã. É também um dos argumentos mais estúpidos. Os cristãos nunca devem ser intimidados pelo sofisma intelectual dos não cristãos, mas devem devastar a incredulidade pela sabedoria e poder de Cristo.

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[60] Jesus não diz que os fariseus são hipócritas, mas ainda assim são o verdadeiro povo de Deus; antes, ele diz que eles são hipócritas e, portanto, não podem escapar da condenação do inferno (Mateus 23:33). Portanto, atacar os fariseus não é atacar a religião revelada por meio de Moisés, pois os fariseus de fato não afirmam ou seguem o que Moisés havia escrito. Da mesma forma, atacar “cristãos” que são verdadeira e consistentemente hipócritas não é atacar o Cristianismo ou os cristãos, mas é atacar os não cristãos que fingem ser cristãos.

Vincent Cheung. The Sermon on the Mount (2012), pp. 96–99. Tradução: Luan Tavares (05/11/2020).

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“Tudo é possível àquele que crê.” (Marcos 9:23 NVI)

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