O Significado de “Gehenna”
William Hendriksen
Gehenna significa aniquilação ou castigo eterno sobre corpo e alma quando Jesus voltar para julgar?
1. A origem do nome Gehenna
Como resultado do juízo final, os ímpios serão atirados ao inferno, tanto sua alma, quanto seu corpo. Agora, nossa palavra “inferno” indica o lugar de castigo eterno para os ímpios. No Novo Testamento, três palavras são usadas no original: Hades (usada dez vezes; veja o Capítulo 17), Gehenna (usada doze vezes) e Tartarus (usada uma vez). Claro que também há sinônimos como “fornalha de fogo”, “lago de fogo”, “segunda morte”, etc. Mas somente Hades, Gehenna e Tartarus são traduzidas como “inferno” em nosso Novo Testamento. Considerando que nós já fizemos um estudo da palavra Hades, nós agora investigaremos o significado de Gehenna, especialmente como ela aparece nada menos que uma dúzia de vezes. Gehenna também pertence ao “estado final dos ímpios”.
Tal estudo é necessário, porque nós estamos ouvindo que Gehenna nunca deveria ter sido traduzida como “inferno”. De fato, ouvimos até que não há tal lugar como o inferno. Gehenna simplesmente significa aniquilação, assim dizem as testemunhas de Jeová (os russellitas).
Agora, se isso é verdade, então todos os nossos eruditos que traduziram a Bíblia erraram grosseiramente, porque se você ler qualquer versão, você encontrará em todas que o termo Gehenna é traduzido como “inferno”. Está havendo um complô para enganar os leitores da Bíblia? Ou todos estão errados, menos os russellitas?
Agora, o melhor modo de estudar o significado da palavra Gehenna é investigar sua origem. Ge-Henna vem de Ge-Hinnom, que quer dizer “a terra de Hinom”, um vale que pertenceu originalmente a Hinom e depois a seus filhos. Você encontrará este vale em qualquer bom mapa de Jerusalém, a sudeste da cidade. Originalmente, sem dúvida, este era um lugar bom, um bonito vale. Mas não permaneceu assim. Foi neste vale que um altar foi construído. Ele depois foi chamado Tofete, que significa, de acordo com alguns, “lugar para se cuspir” ou “aversão”, e, de acordo com outros, “lugar de queimar”. Qualquer interpretação se ajustaria muito bem. Parece que no topo deste altar havia um abismo no qual muita madeira foi empilhada, e que esta madeira foi acesa por uma torrente de enxofre (veja Is 30.33). Os ímpios reis Acaz e Manassés, na verdade, fizeram seus filhos atravessarem este fogo terrível como oferendas para o terrível ídolo Moloque (2Cr 28.3; 33.6). Outros copiaram o exemplo ímpio deles (Jr 32.35). Jeremias predisse que o juízo divino golpearia Tofete: Deus visitaria a maldade terrível que aconteceu em Ge-Hinnom com tal destruição em massa que o lugar seria conhecido como “o vale da Matança” (Jr 7.31-34; 19.2; 32.35). O piedoso rei Josias derrubou este altar idólatra e parou com as abominações (2Rs 23.10). Depois o lixo de Jerusalém passou a ser queimado ali. Portanto, sempre que alguém se aproximasse do vale, veria essas chamas ardentes.
Somando estas várias ideias representadas por Ge-Hinnom, — isto é, sempre fogo ardente, maldade, abominações, juízo divino — é visto facilmente que este Ge-Hinnom se tornou um símbolo para domicílio perpétuo do mau, ou seja, inferno. Ge-Hinnom se torna (em grego) Gehenna, o lugar de tormento sem fim.
Para que o leitor não seja confundido, apontemos que há somente um lugar de castigo eterno. Hades e Gehenna são uma e a mesma coisa, e referem-se ao mesmo lugar. Mas quando este lugar é chamado Hades, a referência é à morada das almas dos ímpios, antes do dia do juízo; quando é chamado de Gehenna, a referência geralmente é à morada dos ímpios, de seu corpo e sua alma, após o dia do juízo.
2. Gehenna significa aniquilação instantânea ou castigo eterno?
As vinte ocorrências da palavra Gehenna são as seguintes: Mateus 5.22: “…aquele que (…) se irar contra seu irmão (…) e (…) lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo”; Mateus 5.29; 18.9; e Marcos 9.47: “E, se um dos teus olhos te faz tropeçar, arranca-o; é melhor entrares no reino de Deus com um só dos teus olhos do que, tendo os dois seres lançado no inferno (Gehenna)”; Mateus 5.30; Marcos 9.43 fazem uma afirmação similar com referência àquele cujas mãos causem tropeço; Marcos 9.45 faz uma afirmação similar com referência àquele cujos pés causem tropeço; Mateus 10.28; cf. Lucas 12.5, diz que Deus pode destruir tanto a alma quando o corpo na Gehenna; Mateus 23.15: “…o tornais filho do inferno (Gehenna) duas vezes mais do que vós!”; Mateus 23.33: “…Como escapareis da condenação do inferno (Gehenna)?” Tiago 3.6: “A língua é fogo (…) é posta ela mesmo em chamas pelo inferno (Gehenna)”.
Então, claramente, o Gehenna é o lugar para o qual Deus condena os ímpios a serem castigados tanto no que diz respeito a seu corpo (olhos, mãos, pés, etc.), quanto no que se refere à sua alma.
Não somente isso, mas o castigo na Gehenna é interminável. Seu fogo é inextinguível (Mt 3.12; 18.8; Mc 9.43; Lc 3.17). O ponto não é somente que sempre haverá um fogo queimando na Gehenna, mas que Deus queima o ímpio com fogo inextinguível, o fogo que está preparado para ele, como também para o diabo e seus anjos (Mt 3.12; 25.41). O verme que ataca o ímpio nunca morre (Mc 9.48). A vergonha deles é eterna (Dn 12.2), e também o seu sofrimento (Jd 6-7). Eles serão atormentados com fogo e enxofre… e a fumaça do tormento deles sobe pelos séculos dos séculos, de forma que eles não tenham nenhum dia ou noite de descanso (Ap 14.9–11). Sim, “…de dia e de noite, pelos séculos dos séculos” (Ap 20.10; cf. 19.3).
As passagens que ensinam esta doutrina do castigo eterno para o corpo e a alma são, de fato, tão numerosas, que nos espanta que, apesar de tudo isso, ainda haja pessoas que, embora afirmem acreditar nas Escrituras, contudo, rejeitam a ideia de um tormento que nunca terminará. Em vez de rejeitarem isto, todos deveriam se esforçar, por meio da fé, como crianças, em Jesus Cristo, para escaparem deste castigo.
Ouve-se uma objeção: “Mas as Escrituras não ensinam a destruição do ímpio?” Realmente, mas esta destruição não é uma aniquilação instantânea, de forma que nada restaria dos ímpios, ou, em outras palavras, de forma que eles deixassem de existir. A destruição da qual as Escrituras falam é uma destruição eterna (2Ts 1.9). As suas esperanças, suas alegrias, suas oportunidades, suas riquezas, etc., perecem, e eles são atormentados para sempre. Quando Jeremias falou sobre pastores que destruíam as ovelhas, ele quis dizer que essas ovelhas deixaram de existir? Quando Josué exclamou: “Oh, Israel, você tem se destruído”, ele estava tentando dizer que as pessoas estavam sendo aniquiladas? Paulo (em Romanos 14.15) pretende implicar que, comendo carne, você pode aniquilar seu irmão? Ou que ele tinha procurado aniquilar a fé outrora? (Gl 1.23)?
O argumento que talvez seja o mais revelador contra a noção de que os ímpios simplesmente são aniquilados enquanto os justos continuam vivendo para sempre, é o fato de que, em Mateus 25.46, a mesma palavra descreve a duração tanto do castigo do ímpio quanto da bem-aventurança do justo: o ímpio parte em castigo eterno, porém os justos em vida eterna.
PARA DISCUSSÃO
A. Baseado neste capítulo
}1. Quais as três palavras que aparecem no Novo Testamento grego que são traduzidas como “inferno” em nossas bíblias?
2. O que ensinam as testemunhas de Jeová a respeito do significado da palavra Gehenna?
3. Conte a história da palavra Gehenna.
4. Como você distingue entre as palavras Hades e Gehenna? Eles indicam dois lugares diferentes, ou, se não indicam, o que indicam, então?
5. Prove que Gehenna não pode querer dizer aniquilação, e que indica o inferno como o lugar de castigo eterno.
B. Debate adicional
1. Qual é o significado de Tartarus e onde esse nome aparece?
2. Qual é o significado de “lago de fogo” e onde esse nome aparece?
3. Qual é o significado de “segunda morte” e onde esse nome aparece?
4. Em Apocalipse 14.9–12, qual é o significado do “homem que adora a besta e sua imagem, e recebe uma marca na sua fronte ou na sua mão”? Explique o restante da passagem.
5. Explique Marcos 9.43–48.
— William Hendriksen. A Vida Futura Segundo a Bíblia. São Paulo: Cultura Cristã, 3ª edição, 2019, p. 174–177.