Gemendo com a Criação
Vincent Cheung
A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à futilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus.
Sabemos que toda a natureza criada geme até agora, como em dores de parto. E não só isso, mas nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo. (Romanos 8:19–23)
De acordo com o plano de Deus, quando Adão caiu em pecado, ele levou a criação com ele. Como Deus disse ao homem: “Maldita é a terra por causa de ti” (Gênesis 3:17). O resultado não foi que o homem deveria aprender a cuidar da terra e cooperar com ela para gerar sustento dela. Pelo contrário, Deus disse que a terra agora resistiria ao homem, de modo que o homem deve subjugar a terra para tirar dela o que ele precisa (v. 18). Então, depois de um tempo o homem morreria e seu corpo retornaria à terra (v. 19). Quando dois partidos lutam sob a maldição de Deus, nenhum sai como o vencedor. Desde aquela época, toda a criação estava gemendo pela libertação até o tempo de Paulo, e continuou gemendo até agora porque o que ela anseia ainda não chegou.
Assim, muito tempo antes da criação se tornar poluída com garrafas plásticas, ela foi poluída com pecadores, com não cristãos. Ela geme, não porque anseia se livrar de fábricas e arranha-céus, mas de se libertar da escravidão e da decadência que veio sobre ela por causa do pecado. Esse dia é marcado pela revelação dos filhos de Deus, isto é, quando Deus vindicará definitivamente seu povo e completará sua adoção pela redenção de seus corpos, ou a ressurreição dos santos. Sua libertação está ligada à salvação que os cristãos desfrutam, ou à “gloriosa liberdade dos filhos de Deus”. O corolário disso é que a criação anseia para se livrar dos não cristãos, de modo que os mansos herdarão a terra.
Portanto, os ambientalistas não cristãos zombam da criação, porque são eles que perpetuam os sofrimentos dela, não por causa de seus copos descartáveis, mas por causa de sua própria existência! E os cristãos que se associam com os fanáticos não cristãos em seu zelo ambientalista são igualmente agravantes, porque permanecer limpa e viva não é o que a criação realmente quer. Um prisioneiro pode apreciar alguns livros e revistas de seu advogado de defesa para ajudá-lo a passar o tempo, mas quando o advogado se propõe a discutir a literatura com ele, o preso provavelmente reclama que o tempo pode ser melhor gasto trabalhando no caso para garantir sua liberdade. Um advogado que permite o que é bom, mas secundário para distraí-lo do que é melhor e necessário, é um mau advogado. Um cristão que permite que até mesmo preocupações ambientais legítimas o distraiam do avanço da mensagem de Cristo é um mau cristão. Um verdadeiro amigo da criação sempre colocará o evangelho em primeiro lugar.
Alguns cristãos não são muito bons em pregar, escrever, orar, aconselhar ou direcionar o tráfego no estacionamento da igreja. Eles são praticamente inúteis quando se trata de algo importante. Se essas pessoas desejam se focar em reciclagem, não tenho nenhum problema com isso. Eles podem até reivindicar o cumprimento do “mandato cultural” e tornar essa parte do ministério do evangelho pela força, a fim de fazerem-se sentir melhor, enquanto o restante de nós trabalha na comissão real que Cristo nos deu. Se isso soa duro demais para aqueles que trabalham arduamente para melhorar o meio-ambiente, o ponto principal é que nossa prioridade deve ser promover a mensagem cristã sobre o pecado e a justiça, a condenação e a salvação, e a encarnação, crucificação, expiação e ressurreição de Jesus Cristo. Qualquer outro item, não importa o quão prático e desejável, não pode ser combinado ou equacionado com isso, e deve assumir um distante segundo lugar.
Hoje em dia, as pessoas preferem esfaquear seu vizinho até a morte a permitir que seus gatos e tartarugas passem fome, mas a própria criação anseia por ser libertada dos gostos desses imbecis. Somente os cristãos estão em sintonia com a criação, porque anseiam pela mesma coisa — não pela energia alternativa, por mais maravilhosa que isso possa ser, mas pela conclusão da aplicação da redenção. Eles anseiam não por preservação, mas por culminação, não por perpetuação, mas por consumação. É claro que os não cristãos não compartilham essa preocupação, porque esse também é o dia em que eles serão lançados no fogo do inferno. Por essa razão, os não cristãos serão sempre os inimigos da criação. Como cristãos, nós gememos junto com toda a criação, não pela salvação dos ursos polares, mas pelo fim do pecado e pela redenção de nossos corpos.
Jesus Cristo é a única esperança para a humanidade e para a criação. Se a criação pudesse falar, iria repreender alguns de nós por nos propormos como seu salvador. Que arrogância! Que abandono da verdade e do dever! Seja gentil com os animais e seja bom para a criação — eu gosto muito de animais, e gosto ainda mais de ar puro e água limpa — mas lembre-se da verdadeira obra do evangelho e coloque isso acima de todas as outras considerações. Não entretenha a noção ridícula de que é tão importante salvar o meio ambiente quanto salvar as almas humanas. De fato, estes não são mutuamente exclusivos, mas são duas coisas diferentes, e uma é claramente mais importante que a outra. Se uma escolha deve ser feita, o ministério do evangelho deve sempre vir em primeiro lugar.
Vá salvar as baleias se quiser — especialmente se você costuma atrapalhar quando tenta a obra do ministério — mas não glorifique isso como uma busca heroica. As baleias também gemem para que vocês, zelotes irritantes, deixem-nas em paz e preguem o evangelho para seus companheiros, homens e mulheres. E se vocês devem incomodar as baleias porque vocês são maus pregadores (as baleias não precisam saber disso), pelo menos orem por aqueles que compartilham a preocupação real da criação enquanto vocês estão limpando os espiráculos das baleias. Assim, os pregadores e as baleias agradecerão.
Vincent Cheung. Groaning with Creation. Disponível em Sermonettes — Volume 5 (2011), pp. 60–61. Tradução: Luan Tavares (11/11/2018).
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