Falácia do Xingamento

Extraído de Vincent Cheung, On Good and Evil (2002).

Luan Tavares
5 min readJun 25, 2021

Xingamento. Esta é uma falácia comum cujo uso é frequentemente afirmado de forma errônea e considerada como constituindo um argumento. Uma pessoa que comete essa falácia pode fazer uma afirmação usando palavras carregadas de conotações negativas contra a outra pessoa ou sua posição, sem oferecer um argumento lógico. Em outras palavras, em vez de tentar persuadir por meio do uso de argumentação racional, o falante rotula a outra pessoa ou sua posição com nomes que carregam conotações negativas.

Por exemplo, alguém pode fazer uma observação a respeito de outra pessoa, suas crenças ou ações, e quando o último tenta fazer uma defesa fundamentada, o primeiro pode chamar o último de “sensível” ou “defensivo”. Esta é a forma covarde de interação social. O primeiro se comprometeu a um debate por meio de suas observações iniciais. Este último não precisa tolerá-los em silêncio, especialmente se os comentários forem hostis, acusatórios e falsos. O acusado deve ter permissão para responder. Se ele responder, ele também deve ter permissão para fazê-lo bem. Se ele o fizer bem, significa que seu discurso ficará latente com argumentos vigorosos, lógica irrefutável e evidência sólida.

A menos que a pessoa que toca no assunto seja uma espécie de tirano social, ela deve ter a cortesia de permitir que a pessoa que acusou ou ridicularizou responda e refute suas afirmações. Se a pessoa fez uma defesa fundamentada, usando argumentos lógicos e citando evidências em apoio, então o primeiro deve aceitar a resposta e retratar seus comentários ou, se discordar, deve emitir um contra-argumento.

Chamar alguém que respondeu bem de “sensível” ou “defensivo” não responde ao argumento e mostra um desrespeito flagrante para com aqueles que dedicam tempo, cuidado e esforço para responder às observações feitas a respeito dele. A pessoa é de fato sensível ou defensiva, ou é porque a pessoa respondeu tão bem que oprimiu seu acusador? O acusador, tentando evitar constrangimento, se esquiva da questão com essa falácia de xingamento.

Aqueles que usam xingamento podem dizer que não é que eles não permitem que a outra pessoa responda, mas que a pessoa forneceu uma resposta muito extensa a alguns comentários bastante inocentes. Isso quer dizer que a resposta é desproporcional às simples observações. No entanto, foi o primeiro que levantou a questão e, portanto, é o responsável por responder a eventuais contra-argumentos que o último apresente. Em vez de acusar a última pessoa com nomes ambíguos e sem fundamentação, eles são obrigados a prosseguir com uma resposta à refutação ou retratar os comentários originais. A pessoa que não está preparada para suportar as consequências de suas palavras deve permanecer calada.

Estou lidando com essa falácia com alguns detalhes, como fiz com o apelo à piedade, porque, como o apelo à piedade, essa falácia é frequentemente usada contra o cristão. Em vez de responder aos nossos argumentos, os incrédulos nos chamam de “mente fechada”, “fanáticos”, “rígidos”, “dogmáticos” e assim por diante. Embora a ação de xingamento não apresenta de fato um argumento, uma pessoa pode pegá-lo e analisar tal xingamento. A acusação de ser “mente fechada”, por exemplo, pode ser formulada neste argumento:

1. Todos aqueles que têm mente fechada estão errados.
2. O Cristianismo é mente fechada.
3. Portanto, o Cristianismo é errado.

Quando formulado ordenadamente assim, o argumento da mente fechada exibe vários defeitos fatais:

(1) A primeira premissa precisa ser provada, e a palavra “mente fechada” precisa ser definida. Por que é errado ser mente fechada? Depois da pessoa ter claramente articulado seu argumento sobre o motivo da rejeição de pontos de vista de mente fechada, ela deve então prosseguir para demonstrar que o Cristianismo é mente fechada.

(2) O argumento da mente fechada não aborda a questão da verdade. Os cristãos se apegam a certas crenças porque as consideram verdadeiras. Estar aberto a possibilidades diferentes da verdade é o mesmo que estar aberto à falsidade e ao engano, o que é tolice. Se alguém deseja desafiar o Cristianismo, deve refutar os argumentos e evidências a nosso favor, em vez de tentar contornar o problema real nos xingando.

(3) Os crentes afirmam a cosmovisão cristã porque creem que ela é exclusivamente verdadeira. Com base nisso, podemos chamar os indivíduos de “mente aberta” de ingênuos e estúpidos, visto que aceitam a primazia da “tolerância” em detrimento da verdade.

(4) Aqueles que nos chamam de mente fechada também são mente fechada, uma vez que não admitem a possibilidade de que seja errado ser mente aberta. Eles estão fechados para a visão de que uma pessoa descobriu a verdade deve ser mente fechada.

(5) O ato de xingar meramente coloca rótulos depreciativos nas pessoas — não ele oferece argumentos reais. O que um chama de mente fechada, outro pode chamar de decisivo, resoluto, firme, preciso e específico. O que alguém chama de sensível, outro pode chamar de observador. O que um chama de defensivo, outro pode chamar de responsivo. O que um pode chamar de paranoico, outro pode chamar de meticuloso e responsável. Pode ser possível substituir todos os rótulos negativos por cinco positivos, e todo o processo não equivale a muito. Precisamos mais do que xingamentos para defender ou refutar argumentos.

Aqueles que apóiam a homossexualidade podem chamar aqueles que se opõem a ela de “homofóbicos”. Se isso é apenas um som para identificar aqueles que se opõem à homossexualidade sem qualquer significado inerentemente negativo, e a palavra tem a mesma função que X ou Y, então tudo bem. Mas este não é o caso, assim como a palavra “estuprador” não pode ser neutra. Muitos usam a palavra “homofóbico” significando aqueles que temem ou odeiam homossexuais. O termo implica que nem sempre aqueles que sejam contra a homossexualidade temem ou odeiam os homossexuais. Isso precisa ser estabelecido em vez de assumido sem argumento.

Chamar alguém de homofóbico não é o mesmo que argumentar sobre por que a homossexualidade é uma orientação sexual aceitável. Aqueles que se opõem à homossexualidade podem facilmente rotular os homossexuais e aqueles que os apóiam como “heterofóbicos”, e os cristãos podem chamar todos aqueles que se opõem ao Cristianismo de “cristofóbicos” ou “teofóbicos”. No entanto, nenhum desses são argumentos legítimos; eles são apenas nomes.

Quando uma pessoa está sendo confrontada com um movimento de xingamento na argumentação, ela deve expô-lo como tal e exigir ouvir um argumento usando uma linguagem não carregada, apoiada pela razão e pela evidência.

Vincent Cheung. On Good and Evil (2002). Tradução: Luan Tavares (25/06/2021).

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© Vincent Cheung. Para mais conteúdos teológicos de Vincent Cheung, consulte https://www.vincentcheung.com/ ou As Obras de Vincent Cheung para materiais do autor em português.

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“Tudo é possível àquele que crê.” (Marcos 9:23 NVI)

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