Existe Algo como Dons de “Sinais”?
Sam Storms
Frequentemente ouve-se do cessacionista que deve ser feita uma distinção entre certos ditos dons de “sinais”, como línguas, profecia, milagres e cura, que, segundo eles, não são mais dados à igreja e todos os outros dons do Espírito.
No entanto, para surpresa de muitos, a expressão “dom de sinal” não aparece em nenhum lugar na Escritura. Os cessacionistas frequentemente (sempre?) criam uma categoria especial para certos dons milagrosos e falam deles como “dons de sinais”, acreditando que isso fornecerá motivos para argumentar que tais dons serviram a um propósito único no primeiro século, mas foram retirados desde então.
A palavra “sinal” aparece com frequência, e da mesma forma a palavra “dom” (charisma). Mas nenhum dom espiritual é explicitamente chamado de “dom de sinal”. E nenhum autor jamais fala dessa categoria de dons para diferenciá-los dos charismata mais comuns ou menos milagrosos. Podemos notar que em Romanos 12:6–8, o dom de profecia (um dos chamados “dons de sinais” pelos cessacionistas) está listado ao lado do ministério, ensino e misericórdia. Não é feita nenhuma tentativa de destacá-lo ou qualquer outro dom milagroso, como se fossem de natureza e propósito diferentes daqueles dons que todos os cristãos reconheceram que continuam na vida e no ministério da igreja hoje.
É verdade que em 1 Coríntios 14:22 Paulo diz que “as línguas constituem um sinal não para os crentes, mas para os incrédulos” (ARA). No entanto, um exame mais atento do contexto deixa claro que falar em línguas sem interpretação na presença de incrédulos é um sinal negativo de julgamento que Paulo não deseja que a comunidade cristã realize. Ele não usa a palavra “sinal” para separar as línguas em uma categoria diferente. Em outras palavras, ele os está repreendendo pelo uso indevido das línguas, não identificando o real propósito das línguas na vida da comunidade de crentes. E note que quando Paulo menciona imediatamente profecia, a palavra “sinal” não aparece no texto original. Os tradutores da ESV [English Standard Version] incluem a palavra “sinal”, mas direcionam a atenção do leitor para uma nota de rodapé, onde indicam que o “grego falta um sinal”.
A palavra “sinal” (semeion) aparece frequentemente em Atos, mas geralmente com referência a “sinais e maravilhas”. Estes últimos geralmente se referem à abundância de milagres que foram associados a Jesus e ao grupo original de apóstolos (veja Atos 2:43; 4:30; 5:12; 6:8; 7:36; 8:13; 14:3; 15:12; também Romanos 15:19; Hebreus 2:3–4). Poderia uma cura específica servir como um “sinal” em alguma capacidade? Sim (veja Atos 4:16, 22; 8:6), mas nem a cura nem as línguas nem a profecia são descritas como “dons de sinais” para indicar que eram temporárias e em uma categoria diferente de outros dons que foram designados por Deus para serem permanentes. Novamente, embora de vez em quando uma cura possa servir como um “sinal”, em nenhum momento a cura é chamada de “dom de sinal”. A única exceção possível a isso está no longo final do evangelho de Marcos, um parágrafo que a maioria dos estudiosos do NT não acredita que faz parte do texto original da Escritura (veja Marcos 16:17–18).
Assim, falar de certos dons espirituais como dons de “sinais” não nos é adequado. Isto tende a sugerir um propósito estreito e temporário para alguns dons, algo que não é corroborado em outras partes do Novo Testamento.
Sam Storms. Is There Such a Thing as “Sign” Gifts?. Tradução: Luan Tavares (16/12/2019).
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