Depressão
André de Mattos Duarte
Quando a nossa imaginação é ampla o bastante para abarcar todos os artigos de fé que a Bíblia ensina, uma tonelada de dificuldades desaparece e uma centena de controvérsias entediantes fica imediatamente resolvida. É o que acontece, por exemplo, com o assunto tão espinhoso da depressão.
Depressão parece ser o problema psicológico mais comentado de todos, o que recebe mais atenção, mais questionamentos, mais qualificações extensas. Os cristãos, em lugar de prover a solução bíblica direta e eficaz, uniram-se aos ímpios nas tergiversações, especulações e emaranhados de proposições complexas que levam mais à obscuridade do que à luz. Sempre que isso acontece, o resultado final de suas dissertações termina em um ceticismo mal admitido: é um “mistério”, é algo “muito complicado”, “não há solução definitiva” e assim por diante. Mas a Escritura sempre produz luz para quem tem a mente de Cristo e recebeu o seu Espírito.
A pergunta que define o problema é: depressão é pecado/falta de fé, doença ou um pouco dos dois? Se é pecado, ou alguma deficiência espiritual, então o aconselhamento bíblico deve resolver. Se for doença, então a solução vem da medicina, isto é, da psicologia, da psiquiatria, farmacologia, etc. Se for um pouco dos dois, então uma abordagem mista é o caminho. Todas as intermináveis discussões, qualificações e toda a aproximação microscópica tendente ao infinito de cada detalhe desse hibridismo entre doença e pecado seguem daí.
Mas a relevância da pergunta definidora depende de uma premissa não verbalizada: a de que o pecado e a fé são do departamento de Deus, enquanto a doença é do departamento da medicina humana. Há uma linha que divide as jurisdições. É tão irreal esperar que Deus resolva o problema da doença quanto esperar que o médico resolva o problema do pecado. É precisamente esse dilema que a Escritura combate.
Assim como os sírios pagãos julgaram que Deus era apenas dos montes e não das planícies (1Rs 20.23), os cristãos resolveram que Deus resolve somente um certo grupo de assuntos. Mas eles se tornam muito piores do que os sírios, porque alegam conhecerem o verdadeiro Deus, alardeiam sua “cosmovisão bíblica” pra todo lado, repetem mil vezes a frase de Kuyper “Não há um centímetro quadrado etc”, e mesmo assim insistem em excluir Deus da cura de enfermidades, ignorando todas as promessas bíblicas. Claro, eles sempre vão admitir que Deus “pode” curar “se for da sua vontade”, mas eles nunca realmente contam com Deus para isso, com uma certeza sem reservas mentais. E sempre vão usar o pretexto da “graça comum” para dizer que Deus age “por meio da medicina”, mas isso continua sendo uma esquiva do método divinamente revelado, que é o milagre.
A doutrina bíblica reiterada e explícita é: pecado e doença são resolvidos pelas mesmas bases e pelos mesmos meios, e pelo mesmo Deus. No Salmo 103.3, Deus perdoa todos os nossos pecados e sara todas as nossas enfermidades. Em Isaías 53.4–5, Jesus toma sobre si os nossos pecados tanto quanto toma sobre si as nossas doenças, e o efeito palpável do seu sacrifício vicário é a cura milagrosa de doenças no presente (Mt 8.17). Em Marcos 2.8–10, Jesus diz que curar o paralítico é tão fácil quanto perdoar-lhe os pecados. Tiago 5.15 diz que a oração da fé irá curar o enfermo e ainda trazer o perdão dos pecados, se houver. Perdão de pecados e cura de enfermidades estão sempre juntos. Estão enraizados na expiação de Cristo, elencados na mesma lista de bênçãos redentivas, resolvidos pela mesma oração de fé. Nós não nos perguntamos se é da vontade de Deus perdoar um pecado específico nosso ou não. Nós simplesmente assumimos como uma apropriação pela fé. É uma confiança quase que automática. A cura de enfermidades deve ser igualmente assumida.
Essa então é a resposta bíblica para o problema da depressão: no que for fruto de pecado, Deus perdoa, orienta, infunde fé e santifica; no que for doença hormonal ou neurológica, Deus cura, ajustando o organismo. Um verdadeiro aconselhamento bíblico irá instruir o depressivo a receber ambas as bênçãos de Deus. É direto, bíblico e poderoso. Quem não enxerga isso não está qualificado para se pronunciar sobre cosmovisão bíblica, teologia da aliança, expiação ou oração. Assim como o sacerdote Zacarias, que hesitou diante da promessa de cura declarada por Gabriel, deveriam ficar mudos até começarem a concordar com Deus.
André de Mattos Duarte, de https://www.facebook.com/poderdoalto0