A Triunidade de Deus

Vincent Cheung, Systematic Theology (2010).

Luan Tavares
6 min readFeb 25, 2021

Deus é uma TRINDADE. Existe apenas um Deus, e esse Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Todos os atributos divinos se aplicam a cada membro da Trindade. Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito cumpriram seus papéis únicos no batismo de Cristo:

Assim que Jesus [Deus Filho] foi batizado, saiu da água. Naquele momento, o céu se abriu, e ele viu o Espírito de Deus [Deus Espírito] descendo como pomba e pousando sobre ele. Então uma voz dos céus [Deus Pai] disse: “Este é o meu Filho amado, de quem me agrado”. (Mateus 3:16–17)

O que às vezes é chamado de Bênção Apostólica diz: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vocês” (2 Coríntios 13:14).

Mateus 28:19 tem uma relevância particular para esta doutrina: “Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Este versículo não diz:

1. “… em nomes do Pai e do Filho e do Espírito Santo.”
2. “… em nome do Pai e em nome do Filho e em nome do Espírito Santo”.
3. “… em nome do Pai, Filho e Espírito Santo.”

Os dois primeiros implicariam que existem três seres separados. E, uma vez que a terceira retém a palavra “nome” no singular, ela não faz uma distinção clara entre as três pessoas. Mas Jesus não declara o mandamento de nenhuma dessas três maneiras. Em vez disso, o versículo diz: “… em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. O Pai, o Filho e o Espírito Santo recebem cada um um artigo definido, indicando assim uma clara distinção entre os três, mas a palavra “nome” permanece no singular, indicando assim a unidade e igualdade essenciais dos três.

Outro texto é 1 Pedro 1:1–2. Ele assume a Trindade e indica o papel que cada membro desempenha na redenção:

Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos de Deus, peregrinos dispersos […] escolhidos de acordo com o pré-conhecimento de Deus Pai, pela obra santificadora do Espírito, para a obediência a Jesus Cristo e a aspersão do seu sangue: Graça e paz lhes sejam multiplicadas.

A formulação doutrinária histórica da Trindade diz que Deus é “um em essência e três em pessoa”. A proposição não acarreta contradição. Para que haja uma contradição, devemos afirmar que “A é não-A”. Em nosso caso, isso se traduz em “Deus é um e não um”, “Deus é três e não três”, “Deus é um em essência e três em essência” ou “Deus é um em pessoa e três em pessoa”. Só há contradição se afirmarmos que Deus é um e não um ou que Deus é um e três ao mesmo tempo e no mesmo sentido. No entanto, a doutrina diz que Deus é um em um sentido e três em um sentido diferente.

O Pai, o Filho e o Espírito são “pessoas” distintas porque representam três sistemas de consciência. Para ilustrar, todos os três sabiam que Cristo morreria na cruz para salvar os escolhidos, mas Deus Pai ou Deus Espírito não pensaram: “Eu morrerei na cruz para salvar os escolhidos”. Em vez disso, eles pensaram: “Ele morrerá” — isto é, o Filho — “na cruz para salvar os escolhidos”. Por outro lado, Deus Filho afirmou o mesmo pensamento na primeira pessoa: “Eu morrerei na cruz para salvar os escolhidos”. Assim, embora todos os três membros possuam onisciência, eles têm relacionamentos diferentes com as proposições conhecidas.

A “essência” na formulação doutrinária se refere aos atributos divinos, ou a própria definição de Deus. Todas as três pessoas cumprem a definição de divindade, mas isso não se torna triteísmo porque a própria definição de divindade envolve todos os três membros, de modo que cada membro não é uma divindade independente. A única ideia de Deus na Bíblia é a Trindade — ela nunca afirma um Deus não triúno. Portanto, quando a Bíblia diz que existe um Deus, ela quer dizer que existe uma Trindade.

As objeções de que a doutrina é autocontraditória e que equivale ao triteísmo, portanto, envolvem um contraste entre uma ideia bíblica de Deus, onde o Deus único é triúno, e uma ideia não bíblica de Deus, onde um Deus pode significar um divindade não triúna. Em outras palavras, sugerir que a doutrina ensina que Deus é um e três, e assim se contradiz, ou que ensina três divindades, significa que a ideia bíblica de Deus já foi ignorada. E quando uma objeção contra uma doutrina ignora o que a doutrina ensina, é uma objeção irrelevante. A ideia cristã de Deus está ligada à Trindade. Ela afirma e pressupõe que Deus é uma Trindade e que existe apenas uma Trindade — Pai, Filho e Espírito Santo.[33]

Outros ataques à Trindade às vezes negam a divindade de uma ou mais pessoas da Deidade. Visto que a divindade do Pai não está em disputa, e um capítulo posterior discutirá a divindade de Cristo, aqui consideraremos apenas a pessoa e a divindade do Espírito Santo.

Em Atos 5:3–4, Pedro diz que Ananias mentiu para o Espírito Santo, mas só se pode mentir para uma pessoa. E acrescenta que, ao mentir para essa pessoa, Ananias mentiu para Deus. Assim, o Espírito Santo é uma pessoa e ele é Deus:

Então perguntou Pedro: “Ananias, como você permitiu que Satanás enchesse o seu coração, a ponto de você mentir ao Espírito Santo e guardar para você uma parte do dinheiro que recebeu pela propriedade? Ela não pertencia a você? E, depois de vendida, o dinheiro não estava em seu poder? O que o levou a pensar em fazer tal coisa? Você não mentiu aos homens, mas sim a Deus”.

Mateus 12:31 diz: “Por esse motivo eu digo a vocês: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada”, mas somente Deus pode ser blasfemado. Hebreus 9:14 chama o Espírito Santo de “Espírito eterno”, mas somente Deus é eterno. Esses versículos indicam que o Espírito Santo é Deus.

As passagens adicionais sobre a divindade do Espírito Santo incluem:

Era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. (Gênesis 1:2)

Para onde poderia eu escapar do teu Espírito? Para onde poderia fugir da tua presença? (Salmo 139:7)

O Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as coisas mais profundas de Deus. Pois quem conhece os pensamentos do homem, a não ser o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus. Nós, porém, não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito procedente de Deus, para que entendamos as coisas que Deus nos tem dado gratuitamente. (1 Coríntios 2:10–12)

Vocês não sabem que são santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vocês? (1 Coríntios 3:16)

Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus? (1 Coríntios 6:19)

As passagens citadas no início desta seção sobre a Trindade implicam na igualdade das três pessoas e, portanto, na divindade do Filho e do Espírito (Mateus 3:16–17, Mateus 28:19, 2 Coríntios 13:14, 1 Pedro 1:1–2).

Há uma distinção de papéis na Trindade. A Bíblia descreve o Filho como subordinado ao Pai e o Espírito Santo como subordinado ao Pai e ao Filho (João 14:28; 15:26). No entanto, uma vez que a igualdade essencial dos três membros foi estabelecida, essa subordinação é apenas funcional e ocorre apenas por consentimento mútuo. Embora o Filho execute a vontade do Pai e o Espírito seja enviado pelo Pai e pelo Filho, as três pessoas são iguais em essência.

Isso fornece uma base para entender a submissão entre os seres humanos. Embora todas as pessoas sejam iguais como seres humanos, Deus nos ordena obedecer aos nossos líderes (Efésios 5:23; Hebreus 13:17; Romanos 13:5). Isso não ocorre porque os líderes são inerente ou essencialmente superiores como seres humanos, mas porque Deus estabeleceu estruturas de autoridade dentro de instituições legítimas, como a família, a igreja e o estado. Portanto, há situações em que Deus exige que uma pessoa se submeta a outra, mas as duas são iguais em essência, ou iguais como seres humanos. Visto que é Deus quem ordena estruturas de autoridade, a submissão voluntária de uma pessoa sob seus líderes é indicativa de seu amor e obediência a Deus.

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[33] Veja Vincent Cheung, The View from Above e Reflections on First Timothy.

Vincent Cheung. Systematic Theology (2010), pp. 65–68. Tradução: Luan Tavares (22/02/2021).

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“Tudo é possível àquele que crê.” (Marcos 9:23 NVI)

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