A Superioridade dos Homens sobre os Animais
Da Teologia Sistemática de Vincent Cheung
A Bíblia ensina que a imagem de Deus é definida em termos do intelecto. Embora o homem tenha algumas vantagens como bípede ereto com polegares opositores, os corpos de muitos animais são superiores de várias maneiras. Alguns são mais fortes, alguns são mais rápidos. Alguns podem sobreviver a condições climáticas severas. Quando se trata de reprodução, muitos são mais prolíficos. Alguns podem respirar na água. Claro, alguns deles podem até voar. No entanto, todos os animais juntos não podem se comparar ao homem em habilidades intelectuais.
Os animais não podem entender silogismos e equações algébricas. Se às vezes eles parecem executar tarefas que exigem pensamento ou desígnio, como construir ninhos elaborados ou navegar por rotas complexas, descobrimos que sua criatividade e capacidade de adaptação são limitadas e que eles são capazes de fazer essas coisas apenas por instinto, e não por pensamento deliberado e racional. Suas habilidades são inatas — Deus embutiu neles o que precisam para sobreviver. Assim, as aves não podem ensinar gatos a fazer ninhos, e as aranhas não podem ensinar elefantes a fingir de mortos quando atacados. A diferença mais importante é que os animais não podem realizar reflexões teológicas. O fato de Deus ter criado o homem à sua própria imagem significa que o homem é uma mente racional, cujo propósito principal é ter comunhão com Deus e adorá-lo.
A mente racional do homem é a semelhança de Deus e seu ponto de contato com Deus. Suas qualidades intelectuais são evidentes desde o princípio de Gênesis. Deus o abençoou em Gênesis 1:28–30 e lhe deu domínio sobre a natureza por meio de um pronunciamento verbal que ele entendeu. Adão cuidou do Éden não por instinto, mas em obediência às instruções verbais de Deus. Deus deu ao homem um mandamento moral em Gênesis 2:16, proibindo-o de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, mas permitiu que ele comesse de todas as outras árvores. O homem foi advertido que violar este mandamento resultaria em sua morte. Somente uma mente racional pode entender conceitos tais como dever, pecado e morte.
A Bíblia distingue explicitamente o homem dos animais com base em suas faculdades intelectuais:
Então o SENHOR Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente… Mas é o espírito dentro do homem que lhe dá entendimento, o sopro do Todo-poderoso. (Gênesis 2:7; Jó 32:8)
[Deus] nos ensina mais que aos animais da terra e nos faz mais sábios que as aves dos céus. (Jó 35:11)
Deus não lhe deu [ao avestruz] sabedoria nem parcela alguma de bom senso. (Jó 39:17)
Não sejam como o cavalo ou o burro, que não têm entendimento mas precisam ser controlados com freios e rédeas, caso contrário não obedecem. (Salmo 32:9)
O novo homem… está sendo renovado em conhecimento, à imagem do seu Criador. (Colossenses 3:10)
A mente do homem, sua inteligência ou racionalidade, é a imagem de Deus. É impossível negar isso, mas algumas pessoas tentam adicionar outros elementos a ela, como moralidade e domínio. Esta é, de fato, consistente a posição bíblica (Efésios 4:24); no entanto, a racionalidade continua sendo o elemento básico na definição da imagem de Deus.
A natureza moral do homem distingue-o dos animais, e assim parece que ela é uma parte da imagem de Deus. Mas qual é a base dessa natureza moral e como ela opera? Até mesmo os animais “obedecem” aos mandamentos de Deus, mas, em vez de obedecê-los com base na compreensão e na vontade, são compelidos por instinto. Por outro lado, o homem recebe e compreende um mandamento divino e decide obedecê-lo ou desobedecê-lo. Ele pode compreender os conceitos do bem e do mal e discuti-los pelo uso da linguagem. Isso significa que o homem é moral precisamente porque ele é racional. A moralidade é uma função da inteligência ou racionalidade. Portanto, embora ter uma natureza moral seja parte do que significa ser uma pessoa humana, não é necessário incluí-la como parte da definição básica da imagem de Deus.
O domínio do homem sobre os animais é também uma extensão ou resultado de sua superioridade intelectual (Gênesis 1:28–30). O domínio é uma função da racionalidade. Como Tiago escreve: “Toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas do mar doma-se e é domada pela espécie humana” (Tiago 3:7). Embora o homem seja fisicamente mais fraco do que muitos animais, sua compreensão e conhecimento permitem que ele invente métodos, ferramentas e armas para domá-los e explorá-los. O domínio do homem sobre a natureza é possibilitado por sua inteligência, e não por qualquer poder sobrenatural ou místico dado por Deus.
O forte interesse pelos direitos dos animais[10] e o vegetarianismo justificarão um breve desvio nesse ponto. A Bíblia ensina que os humanos são mais valiosos do que os animais e que os humanos podem comer animais como alimento:
Todos os animais da terra tremerão de medo diante de vocês: os animais selvagens, as aves do céu, as criaturas que se movem rente ao chão e os peixes do mar; eles estão entregues em suas mãos. Tudo o que vive e se move lhes servirá de alimento. Assim como lhes dei os vegetais, agora lhes dou todas as coisas. (Gênesis 9:2–3)
Observem as aves do céu: não semeiam nem colhem nem armazenam em celeiros; contudo, o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas? (Mateus 6:26)
Ele lhes respondeu: “Qual de vocês, se tiver uma ovelha e ela cair num buraco no sábado, não irá pegá-la e tirá-la de lá? Quanto mais vale um homem do que uma ovelha! Portanto, é permitido fazer o bem no sábado”. (Mateus 12:11–12)
Até os cabelos da cabeça de vocês estão todos contados. Não tenham medo; vocês valem mais do que muitos pardais! (Lucas 12:7)
Observem os corvos: não semeiam nem colhem, não têm armazéns nem celeiros; contudo, Deus os alimenta. E vocês têm muito mais valor do que as aves! (Lucas 12:24)
Pois está escrito na Lei de Moisés: “Não amordace o boi enquanto ele estiver debulhando o cereal”. Por acaso é com bois que Deus está preocupado? (1 Coríntios 9:9)
O Espírito diz claramente que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores e doutrinas de demônios. Tais ensinamentos vêm de homens hipócritas e mentirosos, que têm a consciência cauterizada e proíbem o casamento e o consumo de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ação de graças pelos que creem e conhecem a verdade. Pois tudo o que Deus criou é bom, e nada deve ser rejeitado, se for recebido com ação de graças, pois é santificado pela palavra de Deus e pela oração. (1 Timóteo 4:1–5)
A prioridade do cristão é humanos, não animais. Visto que a Bíblia ensina que os seres humanos possuem um valor superior, devemos alocar recursos de uma forma que apoie a causa de Cristo entre os seres humanos, mesmo à custa do conforto e da sobrevivência dos animais. Muito do que é feito em nome dos direitos dos animais é retirado de recursos que deveriam ser usados para a humanidade. Esta é uma negação de que o homem é feito à imagem divina, que ele é especial entre as criaturas de Deus e, portanto, é uma rejeição da Escritura.
Quanto ao vegetarianismo, Deus concedeu aos humanos permissão para consumir “tudo o que vive e se move” (Gênesis 9:3). A Escritura declara que não estamos restritos a comer plantas: “Assim como lhes dei os vegetais, agora lhes dou todas as coisas” (v. 3). Portanto, abster-se de comer carne por razões espirituais ou como um reconhecimento de “direitos dos animais” afronta o ensino bíblico.
Embora os ativistas dos direitos dos animais estejam errados, isso não significa que o homem pode maltratar e torturar os animais quando quiser. A Escritura nos instrui sobre como devemos tratá-los. Por exemplo, os animais devem se beneficiar do descanso sabático e devem poder comer enquanto trabalham (Deuteronômio 5:13–14, 25:4). Provérbios 12:10 (ARA) diz: “O justo atenta para a vida dos seus animais”. Tais passagens sugerem que é errado torturar animais por esporte ou causar-lhes qualquer sofrimento injustificado. No entanto, permanece que podemos livremente abatê-los como alimento, porque a Escritura garante que isso é legítimo. Dada a tendência contemporânea de favorecer os animais às custas dos homens, devemos fazer um esforço especial para preferir humanos ao pensar sobre o tratamento de animais.
Deus sempre coloca os humanos antes dos animais. Depois de citar o mandamento bíblico que diz: “Não amordace o boi enquanto ele estiver debulhando o cereal”, Paulo acrescenta: “Por acaso é com bois que Deus está preocupado?” (1 Coríntios 9:9). Ou seja, até mesmo um mandamento sobre o tratamento de animais tem o benefício dos homens em vista: “Não é certamente por nossa causa que ele o diz? Sim, isso foi escrito em nosso favor. Porque ‘o lavrador quando ara e o debulhador quando debulha, devem fazê-lo na esperança de participar da colheita’” (v. 10). Portanto, devemos dizer com Deus: “Mate e coma!” (Atos 10:13).
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[10] Um “direito” é algo a que é dado a alguém. Visto que Deus é o criador e dono de todas as coisas, somente ele tem a autoridade para outorgar direitos às suas criaturas. Humanos e animais não têm direitos intrínsecos; só Deus tem direitos intrínsecos. Humanos e animais têm direitos apenas no sentido de que a Escritura ordena que eles sejam tratados da maneira que elas prescrevem. Tais direitos só existem em relação a outras criaturas, porque Deus é livre para tratar suas criaturas da maneira que desejar.
Vincent Cheung. Systematic Theology (2010), pp. 119–122. Tradução: Luan Tavares (19/08/2019). Versão Bíblica usada: NVI— Nova Versão Internacional.