A Política Apostólica em Relação à Profecia
Por Vincent Cheung. Extraído do Commentary on 1 & 2 Thessalonians (2008).
Os versículos 19–22 discutem a política apostólica em relação à profecia. Paulo escreve: “Não tratem com desprezo as profecias”, mas diz aos cristãos que “ponham à prova todas as coisas”.[59]
O cessacionismo é a falsa doutrina de que as manifestações dos dons milagrosos, como os listados em 1 Coríntios 12, cessaram desde os dias dos apóstolos e a conclusão da Bíblia. Embora não haja nenhuma evidência bíblica para esta posição, um motivo principal para esta invenção é assegurar a suficiência da Escritura e a finalidade (conclusão) da Escritura. No entanto, foi demonstrado que a continuação das manifestações milagrosas não contradiz essas duas doutrinas nem as coloca em risco.[60] Portanto, o cessacionismo é antibíblico e desnecessário.
Mais do que isso, o cessacionismo também é maléfico e perigoso. Isso porque, se o cessacionismo for falso, então aqueles que defendem essa doutrina estão pregando rebelião contra o Senhor.
A Bíblia ordena aos cristãos: “Sigam o caminho do amor e busquem com dedicação os dons espirituais[61], principalmente o dom de profecia” (1 Coríntios 14:1). Se o cessacionismo estiver correto, mas não o sabemos, então ainda poderíamos obedecer com segurança a esta instrução, embora não recebamos o que desejamos. Ou seja, se a profecia cessou, mas eu acho que continua, então eu ainda poderia desejar o dom de profecia de acordo com este mandamento, mas não receberei o dom de profecia. Nenhum dano é causado.[62]
Por outro lado, uma vez que o cessacionista ensina que a profecia cessou, embora a Bíblia diga “busquem os dons espirituais”, ele não buscará os dons espirituais, visto que os dons espirituais não estão mais em operação, e os dons que as pessoas pensam que têm são necessariamente falsos. Isso também se aplica à profecia em particular. Portanto, embora Paulo diga: “Não tratem com desprezo as profecias”, o cessacionista deve tratar todas as profecias com desprezo, visto que ele acredita que a profecia cessou, de modo que todas as profecias hoje são falsas. Sua visão em relação à profecia deve ser “rejeitem tudo” em vez de “ponham à prova todas as coisas”. Mas, novamente, se o cessacionismo é falso, então essa pessoa estaria pregando rebelião contra os mandamentos bíblicos de buscar e pôr as manifestações espirituais à prova.
Visto que os mandamentos “busquem os dons espirituais”, “não trate com desprezo as profecias” e “ponham à prova todas as coisas” são revelados pela autoridade divina e infalível, o cessacionista deve apresentar um argumento infalível para torná-los inaplicáveis para hoje. Se ele não pode fornecer isso, mas ainda defende o cessacionismo em face desses mandamentos bíblicos explícitos, então não é óbvio que ele se condenou diante de Deus, mesmo se esta pessoa esteja certa que os dons cessaram? Nenhum cristão deve ousar seguir tal pessoa ou acreditar em sua doutrina. Se alguém prega o cessacionismo, mas não pode prová-lo — se ele não pode fornecer um argumento infalível para isso (visto que a ordem para buscar com dedicação as manifestações espirituais é clara e infalível), isso significa que ele prega conscientemente a rebelião contra alguns dos mandamentos diretos da Bíblia. Por que então, ele não deveria ser removido do ministério ou mesmo excomungado da igreja?
Visto que os argumentos para o cessacionismo são forçados e fracos, e uma vez que a doutrina apresenta um perigo tão grande, é melhor acreditar na Bíblia como está escrita e obedecer aos seus mandamentos como eles são declarados — isto é, “busquem os dons espirituais” e “ponham à prova todas as coisas”. Esta posição é fiel às declarações diretas da Escritura, mas requer resistência corajosa a argumentos falaciosos, bullying acadêmico e tradições da igreja.
Inerente a essa abordagem bíblica está a proteção contra fanáticos e falsos milagres. A Bíblia nos instrui a “pôr à prova todas as coisas” e, visto que ela é suficiente, ela pode expor milagres falsificados e falsas profecias. A resposta não é afirmar que os dons cessaram, mas seguir as instruções que a Bíblia já deu sobre o assunto. Esta posição, de que devemos seguir o que a Escritura diz, nos ofereceria proteção perfeita mesmo se o cessacionismo fosse correto. Se a profecia realmente cessou, então qualquer profecia hoje é falsa. Visto que a Bíblia é uma revelação suficiente, as informações nela nos capacitarão a “pôr à prova todas as coisas”, de modo que qualquer suposta profecia hoje ou será posta à prova e, se for falsa, será condenada, ou se o conteúdo for tal que não é provado, será ignorada.
O cessacionismo nos ensina a abandonar alguns mandamentos divinos sem garantia divina e, portanto, prega a rebelião, mas a posição de que devemos obedecer tanto a “busquem os dons espirituais” quanto a “ponham à prova todas as coisas” prega obediência ao Senhor, e ao mesmo tempo é capaz de se proteger contra todo engano. Não há perigo em buscar com dedicação dons espirituais, contanto que também ponhamos tudo à prova — se todas as manifestações espirituais são falsas, então iremos expor todas elas como falsas quando as pormos à prova, e assim iremos considerar todas elas como falsas. Uma pessoa que faz isso está protegida de julgamento.
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[59] Nota do Tradutor: Na versão inglesa do autor (New International Version), diz: “Testem tudo”.
[60] Ver Don Codling, Sola Scriptura and the Revelatory Gifts (Sentinel Press, 2005). [Nota do Tradutor: Publicado pela Editora Carisma com o título Sola Scriptura e os Dons de Revelação, 3ª Edição — 2020].
[61] Nota do Tradutor: Na versão inglesa do autor (New International Version), diz: “Desejem os dons espirituais”.
[62] Se a profecia cessou, mas eu acho que continua, vou buscá-la e não recebê-la, e então é possível que eu pense que a recebi (e isso é possível porque eu erroneamente penso que continua) e prossiga para profetizar. Isso seria uma falsa profecia. De fato, há mal nisso, mas o problema não está em pensar que a profecia continua, mas em pensar que tenho o dom quando não tenho. Portanto, é um assunto relacionado, mas separado, e é abordado pela instrução de Paulo, isto é, em pôr a suposta profecia à prova, e não em impor a doutrina antibíblica do cessacionismo.
Vincent Cheung. Commentary on 1 & 2 Thessalonians (2008), pp. 137–139. Tradução: Luan Tavares (11/10/2020). Título meu.