A Necessidade e a Asseidade de Deus
Vincent Cheung, Systematic Theology (2010).
Prosseguimos para examinar outros atributos divinos, começando com aqueles que elaboram sobre a forma da existência de Deus, ou seus atributos metafísicos. A NECESSIDADE de Deus é um desses atributos. Refere-se ao fato de que ele existe por necessidade lógica.
Quando a Bíblia fala sobre “Deus”, ela não se refere a alguma divindade genérica, mas sua ideia de Deus é específica e claramente definida. E quando um cristão diz “Deus existe”, ele não deve ter em mente uma ideia geral de algum ser supremo, mas deve ter em mente o Deus de que a Bíblia fala, e deve crer que esse Deus é como a Bíblia diz que ele é. Caso contrário, o que ele diz não corresponderia à Bíblia em cuja base ele faz a declaração. Assim, os cristãos não devem tentar defender um teísmo geral, mas uma ideia bíblica definida de Deus.
De fato, não existe teísmo geral, visto que qualquer perspectiva teísta está sempre ligada a uma cosmovisão, de modo que existe teísmo cristão, teísmo islâmico e outras variedades. Todos eles discordam sobre como é o Deus “teísta”. Portanto, uma pessoa não pode argumentar a favor do teísmo somente para tornar possíveis todas as religiões teístas, e então continuar a argumentar por outras afirmações dentro de uma cosmovisão teísta particular. Como cada cosmovisão tem uma visão única de Deus, deve-se argumentar por sua própria visão de Deus (o que já significa que ele deve defender sua cosmovisão como um todo), e não um Deus geral que várias cosmovisões podem aceitar, porque não há tal coisa. Portanto, estabelecer a existência do Deus cristão não serve aos interesses do islamismo ou dos mórmons de forma alguma. De fato, estabelecer a existência do Deus cristão automaticamente refuta o islamismo e o mormonismo, uma vez que suas visões de Deus são incompatíveis.
Deus existe em todos os mundos possíveis. Um “mundo possível” é a realidade como poderia ser, em que qualquer ser ou evento contingente pode ser diferente. Por exemplo, é possível que uma determinada pessoa seja mais alta do que ela, e é possível que um certo carro seja vermelho em vez de verde. Qualquer realidade que não contenha uma contradição é um mundo possível; isto é, possível em relação à imaginação (como no que é concebível na mente), e não em relação ao decreto de Deus (como no que Deus de fato determinou). Visto que o decreto de Deus determinou todas as coisas de modo que nada pode ser diferente do que foi determinado, a partir desta perspectiva, apenas uma realidade é possível. Em qualquer caso, uma afirmação como 2 + 2 = 4 é verdadeira em todos os mundos possíveis e 1 + 1 = 10 é falsa em todos os mundos possíveis. Dizer que a existência de Deus é uma necessidade lógica significa que a proposição “Deus não existe” acarreta uma contradição nesta e em todas as outras realidades possíveis. Essa conclusão é a implicação necessária da descrição bíblica dos atributos de Deus e da relação de Deus com sua criação.
Algumas pessoas afirmam que Deus não existe por necessidade lógica, mas apenas por necessidade factual em nossa realidade. Visto que afirmamos que ele existe por necessidade lógica em todos os mundos possíveis, concordamos que ele também existe por necessidade factual nesta realidade. No entanto, dado o que sabemos ser verdade sobre Deus, é inadequado dizer que ele existe apenas por necessidade factual nesta realidade, e que ele pode não existir por necessidade lógica em outros mundos possíveis. O argumento pressuposicional e o argumento transcendental tornam qualquer realidade inconcebível, a menos que a cosmovisão cristã seja pressuposta.
Deus é um ser não causado e, uma vez que é o criador, sustentador e controlador de todas as coisas, ele existia antes de todas as coisas. Ele sustenta seu próprio ser e não depende de nada. Esta é a ASSEIDADE de Deus, às vezes chamada de sua AUTOEXISTÊNCIA ou INDEPENDÊNCIA. Ele existe “de si mesmo”[31] e não depende de nada fora de si mesmo para sua existência. Deus é autossuficiente e não existe por algum poder externo, mas por sua própria natureza.
A Bíblia diz que “o Pai tem vida em si mesmo” (João 5:26), mas nossa existência depende da vontade e do poder de Deus: “Pois nele vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17:28 ) Apocalipse 4:11 diz: “Tu, Senhor e Deus nosso, és digno de receber a glória, a honra e o poder, porque criaste todas as coisas, e por tua vontade elas existem e foram criadas”. Paulo diz em Atos 17:25 que Deus “não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo”, mas que ele é quem “dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas”.
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[31] Anselmo: “Mas o que és Tu senão aquele ser supremo, existindo somente por Ti mesmo, que fizeste tudo o mais do nada?”; Anselm of Canterbury: The Major Works, p. 89.
Vincent Cheung. Systematic Theology (2010), pp. 55–56. Tradução: Luan Tavares (01/03/2021).
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