A Eternidade de Deus
Vincent Cheung, Systematic Theology (2010).
O nome divino que Deus revelou a Moisés, “EU SOU O QUE SOU” (Êxodo 3:14), aponta para sua autoexistência. Também sugere que Deus existe em um estado eterno. Ele criou o próprio tempo e é independente dele. Este atributo da existência de Deus é chamado de sua ETERNIDADE ou ATEMPORALIDADE. Gênesis 21:33 diz que ele é “o Deus Eterno”. O Livro dos Salmos revela que ele é “de eternidade a eternidade” (41:13), e que ele é “desde a eternidade” (93:2). Pedro escreve: “Para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia” (2 Pedro 3:8).
A natureza eterna de Deus implica que todo conhecimento é uma intuição eterna para ele. Existe uma sucessão de ideias na mente do homem. Ele raciocina de premissas a conclusões, um processo que ocorre no tempo e como uma sucessão de ideias na mente. Mas, uma vez que Deus é atemporal, nenhuma proposição é cronologicamente considerada antes de outra proposição, de modo que todas as proposições estão diante de sua mente como uma intuição ou pensamento eterno. Portanto, Deus pensa sem associações mentais ou uma sucessão de ideias. Ele pensa por pura intuição, já que todo conhecimento está simultaneamente presente diante dele, incluindo os fatos que pertencem ao nosso futuro.
Isso não significa que a lógica não é aplicável a Deus ou que a lógica é diferente para ele. A lógica é a mesma para Deus e para nós, mas porque ele é eterno e onisciente, seu pensamento não é caracterizado por uma sucessão de ideias. Como todos os seus pensamentos estão simultaneamente presentes, todas as premissas e conclusões estão simultaneamente presentes diante de sua mente. Isso não afeta as relações lógicas entre essas premissas e conclusões. Ele conhece essas relações, e elas são iguais para ele e para nós.
Quando ele traduz seus pensamentos em palavras, como ele faz na Bíblia, os pensamentos que estão simultaneamente presentes em sua mente são organizados em uma sucessão de ideias, em sua ordem lógica, e escritos. Sua apresentação segue os princípios da lógica, que procedem de sua natureza racional. Como a Bíblia diz, no princípio era a Palavra — isto é, logos, que significa lógica, razão, sabedoria e assim por diante — e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus.
Portanto, essa visão da lógica não é baseada em especulação, mas como a Bíblia é a palavra de Deus, todo o livro nos mostra como Deus se expressa em palavras. Além disso, o Filho de Deus assumiu carne humana, entrou no reino do tempo e viveu entre nós. O relato bíblico dele mostra que ele articulou seus pensamentos em um discurso inteligível, organizado de acordo com os princípios da lógica. Portanto, embora o pensamento de Deus não consista em uma sucessão de ideias, sabemos que ele pode se traduzir com precisão em proposições e dispostas como uma sucessão de ideias, de modo que mesmo que seus pensamentos sejam superiores aos nossos, ele pode nos falar para que possamos pensar seus pensamentos.
Algumas pessoas insistem que nossa constituição mental é tão diferente que a própria lógica é diferente com Deus. Eles afirmam que existe a “lógica humana” e existe a “lógica de Deus”, e os argumentos da lógica humana podem não se aplicar a Deus. Mas isso revela um mal-entendido sobre a lógica. A lógica não consiste em regras arbitrárias ou inventadas, mas nos princípios de pensamento necessários. Seu objetivo não é apenas tornar a comunicação conveniente; em vez disso, se houver algum pensamento, as leis da lógica se aplicam por necessidade.
O homem não inventou a lógica, mas a lógica veio de Deus, e temos alguma compreensão da lógica e percebemos sua necessidade porque Deus pensa de acordo com os princípios da lógica e nos fez à sua imagem. Deus pensa de acordo com os princípios da lógica, não porque ele é subserviente a um conjunto de regras que são superiores a ele; antes, os princípios da lógica são descrições da maneira como Deus pensa. São descrições de sua natureza racional.
Portanto, dizer que a lógica é superior a Deus seria análogo a dizer que a onipotência é superior a Deus. Ou dizer que, se Deus pensa de acordo com a lógica, então ele seria subserviente à lógica é análogo a dizer que se Deus fosse onipotente, então ele seria subserviente à onipotência. Não, ele é onipotência. Onipotência é sua natureza; não é externa ou contingente a ele. A palavra é uma descrição de seu poder. Da mesma forma, Deus é lógica, verdade, sabedoria, racionalidade e assim por diante. Essas coisas não são superiores ou inferiores a Deus — elas são Deus. São descrições que enfatizam o aspecto intelectual da natureza divina.
Portanto, de fato não existe algo como lógica humana, mas a lógica de Deus é o único tipo de lógica, e quando pensamos de acordo com as leis da lógica, imitamos o funcionamento da mente dele. Além disso, argumentar que a “lógica humana” não se aplica a Deus é usar a lógica humana para dizer algo sobre Deus, o que é autorrefutável. Se a lógica humana é inaplicável a ele, então nunca se pode dizer isso e esperar fazer sentido ao mesmo tempo. A lógica é de Deus, e é ou a lógica de Deus ou nenhuma lógica.
Vincent Cheung. Systematic Theology (2010), pp. 56–58. Tradução: Luan Tavares (28/02/2021).
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